Alinhada aos compromissos internacionais firmados pelo Brasil de descarbonização e de transição energética, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) lançou nesta terça-feira (1°/10), durante o Imersão Indústria, uma campanha de combate à utilização de energia elétrica suja no país. Antes disso, o estudo foi apresentado na Climate Week NYC, um dos maiores eventos anuais sobre clima em Nova York, onde o presidente Flávio Roscoe apresentou dados sobre a transformação da matriz elétrica brasileira ao longo dos últimos 30 anos e defendeu investimentos públicos e privados em energia elétrica renovável.
A campanha “Combatendo as Mudanças Climáticas: a matriz elétrica e as estratégias para um futuro mais sustentável” surgiu de um estudo elaborado pelas gerências de Economia, Meio Ambiente e Energia da FIEMG que apontam como a matriz elétrica brasileira reduziu o percentual de participação de fontes renováveis nos últimos 30 anos e os impactos da energia elétrica suja no meio ambiente, na sociedade e no custo da energia elétrica no país.
“A maior vantagem competitiva que o Brasil tem é a matriz elétrica limpa. Mas, ela já foi mais limpa e mesmo com a energia solar, a energia distribuída fotovoltaica e a energia eólica expandindo nos últimos anos, a nossa matriz sujou e vem sujando. E por que? Porque foram criadas várias dificuldades para se empreender nas energias renováveis no país. E as hidrelétricas, que chegaram a ser 96% da matriz elétrica brasileira, hoje respondem por 64%”explicou o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe.
Segundo dados do estudo, entre 1995 a 2022, o Brasil viu sua matriz elétrica limpa cair de 97,6% para 89%, com queda considerável da participação das hidrelétricas entre as fontes de energia elétrica, que passaram de 96% para 64% no mesmo período. Em contrapartida, houve um crescimento da utilização de energia gerada por termelétricas a carvão e gás natural.
Essas usinas térmicas, além de elevarem o custo da energia elétrica no Brasil, são importantes fontes de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, o que vai na contramão das metas de descarbonização assumidas pelo país. “Em comparação com as hidrelétricas, uma termelétrica a carvão mineral, por exemplo, emite 34 vezes mais carbono na atmosfera, e uma termelétrica a gás natural tem emissões 20 vezes maiores”, destacou Roscoe.
Além da questão ambiental, o presidente da FIEMG destacou a importância das hidrelétricas de grandes lagos que podem mitigar impactos da crise climática e eventos severos, como o registrado nos últimos meses de abril e maio no estado do Rio Grande do Sul. “A título de exemplo, temos o caso da usina de Três Marias, aqui em Minas Gerais, que há alguns anos registrou um pico de volume de chuva – que foi capaz de, em menos de um mês, elevar a volume armazenado de 40% para mais de 90%. Isso aconteceu porque o lago reteve toda a água da chuva, e evitou que ela passasse 18 metros acima do normal e que atingisse municípios a jusante causando um desastre”, disse o presidente. Ele afirmou ainda que, uma hidrelétrica do porte de Três Marias reduziria os significativamente os impactos e prejuízos causados no RS, pois controlaria 67% da vazão.
Nesse sentido, o presidente da FIEMG defendeu o banimento das termelétricas a carvão e gás natural até 2035, com vistas a atingir as metas de redução de emissão de carbono assumidas pelo país. “Considerando as últimas emissões de GEE levantadas do setor industrial e as informações de geração de energia elétrica deste mesmo ano, o ciclo de vida das emissões das termelétricas não renováveis geraram o correspondente a 42% do total de toda emissão de gases de efeito estufa da indústria brasileira. Isso significa que, se não mudarmos a matriz elétrica brasileira, nós enquanto indústria, não atingiremos as metas de redução de emissão de CO² até 2050. Se os 11% de matriz suja na nossa matriz elétrica, emitem 42% de tudo que a indústria emite, como vamos reduzir essa emissão se essa matriz sujar ainda mais? Então, esta é uma discussão acerca da sobrevivência da indústria brasileira, o banimento das termelétricas a gás e carvão são a única chance de o país cumprir os protocolos que assinou”, afirmou categoricamente.
Ao final da palestra, Flávio Roscoe convidou a todo o público presente para se engajar na campanha pelo fim das termelétricas a gás e carvão mineral, e defendeu que sejam desburocratizados e incentivados os processos de licenciamento e de investimento em hidrelétricas e termelétricas renováveis, que utilizam biomassa como insumo. A iniciativa foi apoiada pelo governador Romeu Zema, que participou do Imersão Indústria com uma palestra sobre sua trajetória de Empresário à Governador e, ao final, falou com a imprensa. “Os ‘ecoxiitas’ no Brasil fizeram o Brasil tomar esse rumo que, na minha opinião é o pior possível em termos de poluição e pior ainda de custo para o consumidor, porque disseram que os reservatórios hidrelétricos iriam destruir a natureza. E o Brasil teve que construir termelétricas, que poluem muito mais do que qualquer reservatório e geram uma energia poluente e mais cara. O que estamos vendo são escolhas erradas do passado que precisam ser corrigidas. Eu gostaria que as termelétricas fossem desativadas e que tivéssemos aqui mais energia hidrelétrica, eólica e fotovoltaica, que são mais baratas e menos poluentes”, afirmou.
Confira o estudo na íntegra, clicando aqui.
Abertura
O presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, também fez a abertura da 2ª edição do Imersão Indústria, nesta terça-feira (1°/10), no Minascentro, em Belo Horizonte, dando boas-vindas aos presentes e destacando o crescimento do evento ao longo dos últimos anos.
“Esse evento vem, a cada edição, crescendo e ganhando corpo e tem a proposta de trazer para o mundo empresarial e para a sociedade como um todo temas relevantes que apontam o futuro da indústria, do comércio e da agricultura.”São mais de 70 palestras, mais de 130 palestrantes e todos os temas ligados ao setor produtivo serão tratados aqui, tanto aqueles do dia da dia quanto aqueles estratégicos, portadores de futuro e que vão fazer a transformação dos próximos anos”, disse.
Ele também ressaltou a parceria com a Fecomércio na atual edição. “Esse ano estamos com uma parceria com a Fecomércio e, na sequência, do Imersão Indústria teremos o Inova Varejo. E, na verdade, essa divisão entre agricultura, comércio e indústria é uma divisão fictícia porque esses setores trabalham em harmonia e em conjunto e fico muito feliz de ver as três casas – FIEMG, FAEMG e Fecomércio – atuando de maneira próxima e fazendo com que a união que já existe no setor produtivo se transforme também em uma união entre as entidades e as representações”, afirmou.
Ainda na abertura, o diretor e superintendente do Sebrae, Afonso Maria Rocha, destacou a importância da indústria para o país e o apoio oferecido pelo Sebrae ao setor. “Para o Sebrae Minas, apoiar a indústria mineira, especialmente as micro e pequenas empresas, é uma questão estratégica, pois consolida a inovação em outros setores da cadeia produtiva. Nosso compromisso com o setor industrial, se materializa em primeiro lugar numa abordagem chamada Mais Indústria, criada por nós para acelerar a transformação das pequenas indústrias, potencializando sua capacidade de aprimorar e inovar por meio de qualificações e consultoria em gestão, processos, qualidade, tecnologia, mercado, desenvolvimento de novos produtos e serviços, e remodelando suas jornadas, preparando-as para os desafios que o mercado impõe ao pequeno negócio”, disse.
O Imersão Indústria é realizado pela FIEMG, SESI e SENAI, com patrocínio máster da ArcelorMittal, Codemge, CNI e Vale; apoio máster do SEBRAE; patrocínio ouro da Herculano Mineração, Gerdau, Eletrobras, Schneider Eletric; patrocínio prata do Sicoob Credfiemg, Copasa, CBMM, Souza Cruz/BAT Brasil, USIMINAS e Nanum Nanotecnologia; e apoio do BDMG, Localiza, Bemisa, Sambatec, FAEMG e Fecomércio.
Thaís Mota
Imprensa FIEMG