A sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) foi palco, nesta quarta-feira (21/05), de um evento histórico para a indústria brasileira: a celebração da primeira entrega de óxidos de terras raras obtidos a partir da reciclagem de ímãs permanentes realizada pela Viridion Rare Earth Technologies Ltda., uma joint venture entre a brasileira Viridis Mineração e a britânica Ionic Technologies.
O marco representa a primeira entrega deste tipo no Hemisfério Sul, colocando o Brasil como pioneiro na adoção de práticas sustentáveis de reaproveitamento de materiais críticos, essenciais à produção de tecnologias de alto valor agregado como motores de carros elétricos, turbinas eólicas, sensores e equipamentos eletrônicos.
O processo desenvolvido pela Viridion permite a recuperação de óxidos de terras raras por meio da reciclagem de ímãs permanentes usados, o que reduz a necessidade de mineração de novos recursos, além de aumentar a eficiência e diminuir o impacto ambiental da cadeia produtiva.
“Coletamos ímãs usados aqui no Brasil e os enviamos para nosso centro tecnológico em Belfast, na Irlanda do Norte, onde realizamos todo o processo de reciclagem. Agora, estamos devolvendo ao país os óxidos de terras raras obtidos, marcando um passo importante rumo à produção dos primeiros ímãs reciclados no Brasil e na América do Sul. Estamos muito entusiasmados com a perspectiva de, em breve, trazer essa tecnologia para cá, permitindo que todo o ciclo – da mineração à fabricação dos ímãs – seja realizado no Brasil, especialmente em Minas Gerais”, disse o CEO da Viridis, Klaus Petersen.
A maior parte dos materiais entregues à FIEMG nesta quinta-feira – Óxido de Térbio, Óxido de Neodímio, Óxido de Disprósio e Óxido de Neodímio e Praseodímio – teve origem na reciclagem de equipamentos utilizados em turbinas eólicas e ressonância magnética. “Os ímãs que utilizamos vieram de turbinas eólicas e de equipamentos de ressonância magnética. Ou seja, estamos lidando com aplicações essenciais da tecnologia moderna. Agora, esses ímãs reciclados serão reutilizados exatamente nas mesmas finalidades — reforçando que o futuro da transição energética também passa pela saúde e por soluções tecnológicas sustentáveis”, completou o CEO.
A entrega dos óxidos reciclados demonstra, na prática, a viabilidade técnica e econômica do processo e representa um avanço no desenvolvimento da economia circular no Brasil, ao mesmo tempo em que fortalece a posição do país como um player relevante na geopolítica dos metais críticos.
Convergência internacional e apoio institucional
A reciclagem dos materiais foi realizada na planta da Ionic Technologies em Belfast, no Reino Unido, e os óxidos foram entregues oficialmente na sede da FIEMG em Belo Horizonte, simbolizando não apenas a concretização de uma inovação industrial, mas também a colaboração internacional em torno de um modelo produtivo mais sustentável.
A partir de agora, eles serão testados na estrutura do Instituto de Terras Raras (CIT SENAI ITR), localizado em Lagoa Santa (MG), mantido pela FIEMG, como centro de referência no desenvolvimento tecnológico da cadeia de terras raras no Brasil.
“Esses ímãs serão utilizados no laboratório do CIT SENAI ITR, unidade que hoje é referência em inovação para a cadeia de terras raras. Estamos acompanhando de perto esse processo histórico, que destaca de forma exemplar a importância da reciclagem — afinal, esses materiais não são novos, mas foram reaproveitados com alta eficiência. O projeto liderado pela Viridion tem potencial para atender até 7% da demanda global, o que representa um avanço estratégico, capaz de reduzir significativamente a dependência de mercados internacionais — especialmente da China — no fornecimento de insumos essenciais para a transição energética”, destacou o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe.
A expectativa do gerente de Inovação e Tecnologia do SENAI do ITR, José Luciano Pereira, é que ao longo do segundo semestre deste ano já tenham sido realizados todos os testes com a matéria-prima reciclada no ITR. “Ainda neste segundo semestre, já teremos uma avaliação técnica sobre a viabilidade desse processo. É um passo importante e, sem dúvida, um marco para todos os envolvidos — FIEMG, SENAI, Viridion e demais parceiros — na construção de uma cadeia nacional de terras raras baseada em inovação e sustentabilidade”, destacou.
Ele explicou ainda os processos que serão realizados no Instituto de Terras Raras. “No CIT SENAI ITR, vamos testar esses óxidos reciclados em escala de laboratório, produzindo pequenas quantidades de ímãs a partir desse material. Nosso foco será avaliar a qualidade dos ímãs produzidos — vamos caracterizar o material, medir seu poder de magnetização e verificar se as propriedades das terras raras estão dentro dos parâmetros exigidos para aplicações de alto desempenho. Se os resultados forem positivos, esses óxidos poderão abastecer outras etapas da produção no ITR”, disse.
A iniciativa da Viridion também pode vir a integrar as ações do Projeto MagBras, aprovado recentemente no Programa Mover, que visa consolidar uma cadeia produtiva nacional e sustentável para a fabricação de ímãs de Neodímio, Ferro e Boro (NdFeB) — componentes estratégicos para a indústria verde global. O projeto reúne empresas mineradoras, startups e grandes indústrias – entre elas o CIT SENAI ITR e a Viridion, conectando diferentes elos da cadeia produtiva, da extração ao produto final.
“Esse é um momento histórico não só para a FIEMG e a Viridion, mas para todo o projeto MAGBRAS. Pela primeira vez no hemisfério sul, estamos entregando óxidos de terras raras obtidos por reciclagem — um marco que dá o pontapé inicial para acelerarmos as próximas etapas do projeto. A partir daqui, vamos poder demonstrar, com base em resultados concretos, que o Brasil tem plena capacidade de produzir ímãs permanentes com alto desempenho e qualidade, e de se posicionar como um player global nesse setor estratégico”, completou José Luciano.
Protagonismo brasileiro
O Brasil detém a segunda maior reserva mundial de terras raras e, com iniciativas como esta, dá passos concretos rumo à verticalização da produção desses insumos estratégicos, reduzindo a dependência de importações e aumentando sua competitividade na economia global de baixo carbono.
Por isso, a entrega dos óxidos de terras raras reciclados não apenas celebra uma entrega simbólica, mas marca o início de uma nova fase para a indústria nacional, com base na inovação, na sustentabilidade e na integração entre ciência, indústria e meio ambiente. Uma jornada que começa agora, mas com olhos voltados para um futuro mais limpo, independente e tecnologicamente soberano.
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Thaís Mota
Imprensa FIEMG