Pela quarta vez no ano, o Conselho de Política Econômica da FIEMG reuniu-se na sede da Federação, em Belo Horizonte, para avaliar a conjuntura político-econômica de Minas Gerais e do Brasil em 2024. O encontro ocorreu na manhã desta quinta-feira (27/06).
Na primeira parte da reunião, João Pio, economista-chefe da FIEMG, analisou a última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 10,5%. Segundo a ata, o cenário atual, caracterizado por uma desinflação lenta, pela ampliação da desancoragem das expectativas e por um ambiente global desafiador, exige serenidade e moderação na condução da política monetária.
De acordo com Pio, “parte da desancoragem das expectativas vem do aumento da percepção de risco fiscal, tendo em vista a piora do quadro das contas públicas. Com isso, as expectativas de inflação para 2024, 2025 e 2026 aumentaram, além da ocorrência do descolamento da curva de juros, principalmente para períodos mais longos”.
O conselheiro Fábio Caldeira apontou que os indicadores de expectativas têm piorado, mas que isso ainda não se refletiu na economia real. Segundo ele, “se as expectativas permanecerem desancoradas, o ciclo de crescimento pode se reverter, gerando queda do PIB, aumento da inflação e do desemprego e diminuição da renda, no médio e longo prazos, afetando diretamente a vida da maioria da população”.
Rogério Mascarenhas, presidente do colegiado, destacou a posição do setor produtivo com relação à taxa de juros vigente no país. De acordo com ele, “a manutenção da taxa de juros em patamar elevado prejudica o setor produtivo, especialmente a indústria”.
Também foi discutida na reunião do conselho a importância da independência do Banco Central, ponderando que as discussões técnicas sobre o patamar da taxa de juros são válidas, porém, que qualquer intervenção política na autoridade monetária deve ser condenada.
No final da primeira parte da reunião, foi consenso entre os participantes que a conjuntura exige uma abordagem cautelosa e um monitoramento constante das variáveis econômicas, para a tomada de decisões adequadas frente aos desafios impostos.
Na segunda parte da reunião, Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice, apresentou questões relacionadas às perspectivas do cenário político do país. Segundo ele, o Brasil enfrenta um cenário político marcado pela complexidade das relações entre um governo de esquerda e um Congresso Nacional predominantemente de centro e centro-direita. Essa divergência é evidente na frágil base de apoio que o governo mantém na Câmara dos Deputados. O presidente Lula tem enfrentado um apoio cada vez menor no Congresso, o que o obrigou a realizar mudanças significativas em seu gabinete em resposta à pressão política.
Apesar das relações conturbadas, alguns projetos importantes conseguiram avançar, como a Reforma Tributária. “Algumas medidas foram aprovadas e geraram uma repercussão positiva no mercado”, destacou. Esses avanços demonstram que, mesmo em meio a uma relação cheia de altos e baixos, é possível alcançar progressos legislativos que beneficiem o país.
Complementando essa análise política, Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, apresentou o panorama econômico atual e as perspectivas para a economia brasileira. A análise revelou uma recuperação gradual do mercado de trabalho em várias economias desenvolvidas, como dos EUA, impulsionada pelo aumento da demanda e pelo controle da Covid-19. Também apontou que as exportações têm mostrado sinais de crescimento, especialmente nos setores de tecnologia e manufatura, enquanto as importações refletem uma retomada do consumo.
Ao focar na economia brasileira, a análise ressaltou os principais desafios enfrentados pelo governo e pela sociedade. Segundo ele, “o Brasil lida com uma taxa de quase pleno emprego e a demanda interna vem crescendo em ritmo superior ao PIB”. Apontou, ainda, que as importações e exportações brasileiras foram impactadas pelas flutuações cambiais e pelas tensões comerciais globais. Entre os desafios enfrentados pelo país, foram destacados o endividamento do setor público, a necessidade de reformas estruturais e a pressão inflacionária, que afetam tanto o poder de compra dos cidadãos quanto a competitividade das empresas nacionais. Esses fatores exigem medidas estratégicas e um esforço conjunto para promover um crescimento econômico sustentável e inclusivo.
No final do encontro, ficou evidente que a conjuntura político-econômica de 2024 demanda uma abordagem cautelosa e estratégica. A participação de Cristiano Noronha e Alexandre Schwartsman enriqueceu o debate com perspectivas políticas e econômicas, reforçando a necessidade de vigilância constante e decisões fundamentadas para enfrentar os desafios e promover um desenvolvimento sustentável.