O Brasil se encontra em um momento decisivo diante das transformações geopolíticas globais. A análise do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Flávio Roscoe, durante a primeira reunião de 2025 do Conselho de Relações Internacionais, destacou as possibilidades que o atual cenário oferece ao país, mas também os desafios que precisam ser superados para garantir um posicionamento estratégico no mercado global.
“O Brasil tem mais oportunidades do que muitas outras nações, mas temos desperdiçado algumas delas ao longo dos últimos anos. Com a nova configuração geopolítica em andamento, surgem ainda mais possibilidades tanto nos Estados Unidos quanto na China. No entanto, precisamos estar atentos e preparados para os desdobramentos”, afirmou Roscoe.
A discussão ocorreu no dia 19 de março, na sede da FIEMG, em Belo Horizonte, e reuniu empresários para debater os impactos das mudanças políticas e econômicas globais sobre o Brasil. A reunião foi conduzida pelo presidente do Conselho de Relações Internacionais da FIEMG, Alexandre Mello, que destacou a importância da Federação na internacionalização das empresas mineiras e os desafios impostos pelas recentes medidas dos Estados Unidos sobre o comércio internacional.
Impactos das políticas americanas no Brasil – Entre os pontos abordados, um dos principais foi a política protecionista dos Estados Unidos, especialmente no setor do aço e alumínio. “A atual crise do aço terá impacto no Brasil, mas nosso país tem um papel estratégico para a política americana, o que pode nos favorecer. Em 2018, por exemplo, saímos fortalecidos de uma situação semelhante, e nosso comércio com os Estados Unidos cresceu”, pontuou Roscoe.
Kathleen Garcia Nascimento, secretária adjunta de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, ressaltou que a imposição de tarifas de 25% sobre ferro, aço e alumínio pelo governo Trump em anos anteriores impactou diretamente a balança comercial mineira. No entanto, Minas Gerais conseguiu diversificar seus mercados para países como França, Reino Unido, Alemanha, Japão e Coreia do Sul. Mesmo assim, os Estados Unidos continuam sendo o segundo maior parceiro comercial do estado, representando 10,9% das exportações e 11,8% das importações estaduais em 2024.
O Jogo geopolítico entre EUA e China – A disputa entre Estados Unidos e China também foi tema central do evento. A China caminha para se tornar uma potência hegemônica nos próximos 30 anos e tem adotado estratégias geopolíticas assertivas, como a recente restrição à exportação de ímãs de terras raras, essenciais para diversas indústrias globais. Como domina 98% desse mercado, a China pode aumentar sua influência econômica ao forçar outros países a comprarem produtos manufaturados em vez de apenas a matéria-prima.
Segundo Silvio Cascione, diretor da Eurasia Group no Brasil, esse cenário representa um golpe estratégico para os Estados Unidos, que não possuem, no momento, tecnologia suficiente para reduzir essa dependência. O Brasil, por outro lado, pode se beneficiar dessa guerra comercial, ocupando espaços no mercado internacional em setores como agronegócio e mineração.
Desafios e perspectivas para o Brasil – Apesar das oportunidades, o Brasil ainda enfrenta dificuldades na implementação de acordos comerciais, como no caso do Mercosul-União Europeia, que após 20 anos de negociação continua encontrando barreiras. A gerente de Relações Brasil-EUA e Sustentabilidade da Amcham Brasil, Carolina Telles Matos, enfatizou a importância de manter o diálogo com os EUA para minimizar impactos das tarifas protecionistas e garantir maior previsibilidade ao ambiente de negócios.
Em 2024, a corrente de comércio entre Minas Gerais e os Estados Unidos superou US$ 6,6 bilhões, um crescimento de 17,3% em relação ao ano anterior. Os EUA seguem como o maior investidor estrangeiro no Brasil, com R$ 357,8 bilhões aplicados, impulsionando 126 novos projetos greenfield em 2023.
O futuro do Brasil no tabuleiro global dependerá da capacidade do país de se adaptar às novas dinâmicas internacionais e fortalecer sua inserção nos mercados globais. “Os movimentos tectônicos que estamos presenciando podem ser bruscos, mas, se bem aproveitados, podem trazer vantagens para o Brasil”, concluiu Flávio Roscoe.
Denise Lucas
Imprensa FIEMG