Realizado pela Amcham e FIEMG em Belo Horizonte, evento debateu tarifas, comércio bilateral e estratégias de expansão para os Estados Unidos
A sede da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), em Belo Horizonte, recebeu no dia 23 de setembro o Encontro Brasil–Estados Unidos. O evento reuniu empresários, autoridades e especialistas para discutir os desafios e as oportunidades da internacionalização em meio às mudanças no cenário econômico global.
Na abertura, Matheus Vieira, gerente executivo da Amcham Brasil, destacou a relevância da parceria com a FIEMG e agradeceu o apoio da Bicalho Consultoria Legal e da Flow Business and Accounting Services, patrocinadoras da iniciativa. “O Brasil e os Estados Unidos compartilham mais de um século de relações diplomáticas e comerciais. Essa relação não se constrói de forma imediata; é fruto de visão de longo prazo, paciência estratégica e da capacidade de adaptação das empresas e instituições que acreditam no potencial de ambos os países”, afirmou. Vieira também ressaltou os quatro pilares de atuação da Amcham para apoiar o empresariado brasileiro: produção de inteligência e análises exclusivas, promoção de reuniões empresariais e missões internacionais, advocacia junto a autoridades no Brasil e nos EUA, além de suporte prático à internacionalização e emissão de vistos.
O presidente do Conselho de Relações Internacionais da FIEMG, Alexandre Mello, reforçou que o momento é decisivo para a relação bilateral. “Deixando de lado as questões políticas, o que realmente nos interessa é o fortalecimento das relações comerciais e jurídicas, para que ambos os países possam alcançar resultados produtivos”, disse. Ele apresentou dados recentes do comércio entre os dois países: em 2024, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões para os EUA e importou US$ 40,6 bilhões. Já em 2025, até o momento, foram US$ 26,5 bilhões em exportações e quase US$ 30 bilhões em importações. No caso de Minas Gerais, o estado exportou US$ 4,6 bilhões em 2024 e já soma US$ 3,14 bilhões em 2025, com destaque para produtos como café e ferro-gusa.
Apesar do desempenho, Mello alertou para os gargalos tarifários. Em agosto, as exportações mineiras para os Estados Unidos caíram 50,44% em relação ao mês anterior, resultando em déficit de cerca de US$ 21 milhões na balança comercial. Houve algum respiro para setores como o do ferro-gusa, poupado de tarifas mais altas, mas produtos como café, máquinas, equipamentos, granito, joias e bijuterias chegaram a sofrer sobretaxas de até 50%. A FIEMG, sob a liderança do presidente Flávio Roscoe, tem incentivado fortemente a negociação. Em setembro, a entidade participou de uma missão a Washington, junto com a CNI e empresários de diversos setores, para dialogar com representantes norte-americanos e buscar soluções que mitiguem os efeitos das tarifas.
Além dos debates sobre comércio bilateral, Mello destacou iniciativas da FIEMG que conectam internacionalização à sustentabilidade. Entre elas estão o Laboratório de Terras Raras, inaugurado em Lagoa Santa, e o futuro Centro de Descarbonização da Indústria em Minas Gerais, ambos com o objetivo de apoiar a transição para uma economia de baixo carbono.
O tema também foi abordado por Fabrizio Panzini, diretor de Relações Governamentais da Amcham Brasil. Ele lembrou que, desde a posse de Donald Trump, a política comercial americana passou a priorizar a redução do déficit e a aplicação de tarifas recíprocas. “Antes mesmo da posse, já existia diálogo com autoridades brasileiras para abrir canais de comunicação. Hoje, mais de 70% das exportações brasileiras para os EUA sofrem alguma sobretaxa”, disse. Panzini destacou ainda que Minas Gerais é mais vulnerável que a média nacional: enquanto apenas 6% das exportações do estado estão isentas de sobretaxas, esse percentual chega a 26% no Brasil.
A programação contou ainda com painéis e workshops. O painel “Como o governo brasileiro e americano podem apoiar seu negócio” reuniu Igor Isquierdo, da ApexBrasil, e André Leal, do Select USA, com moderação de Rebecca Macedo, gerente do Centro de Negócios Internacionais da FIEMG. “Recentemente estivemos nos Estados Unidos e, a partir dessa experiência, estamos estruturando nosso calendário de iniciativas. O mercado norte-americano continuará sendo uma de nossas prioridades dentro das nossas metas de atuação”, disse Macedo, pontuando que a Federação mineira já está construindo um programa de ações para o próximo ano, no qual os Estados Unidos terão papel estratégico dentro desse calendário.Já o painel de cases de internacionalização apresentou as experiências de Antônio Toledo, da Time Now, Alexandre Kalid, da Forno de Minas, e Arabela Del Cueto, da Stefanini, mediado por Camila Moura, diretora de Negócios Internacionais da Amcham Brasil. No período da tarde, a Bicalho Consultoria Internacional conduziu dois workshops práticos: um sobre migração e oportunidades para empresários brasileiros e outro sobre como abrir uma empresa nos Estados Unidos, abordando aspectos legais, fiscais e administrativos.
Denise Lucas
Imprensa FIEMG