De acordo com dados de 2021, Minas Gerais conta com 4.251 empresas, que representam 12,8% do total do Brasil (38.088). No setor de vestuário, são empregados mais de 58 mil trabalhadores com carteira assinada em Minas Gerais. Esse número representa 6,7% dos funcionários da indústria geral. Dos trabalhadores da atividade de vestuário no país, cerca de 11,2% estão em Minas Gerais. Sempre preocupada em buscar alternativas para o crescimento do setor na Zona da Mata, a presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Juiz de Fora (Sindivest-JF) e da Câmara do Vestuário e Acessórios da FIEMG, Mariângela Marcon, desenvolveu um estudo sobre o cenário atual do setor têxtil e confeccionista, visando identificar os gargalos que afetam as indústrias e traçar possibilidades e perspectivas de melhoria.
De acordo com Mariângela Marcon, os empresários ligados não só à indústria, mas também ao varejo, vivem momentos de insegurança e instabilidade. “Com o advento da pandemia de Covid-19, a economia mundial sofreu uma forte retração e a maioria dos empresários brasileiros ficou em uma situação muito difícil, em que alguns fecharam as portas e os que sobreviveram estão agora pedindo socorro, pois são devedores de impostos estaduais e federais que chegam a atingir cifras muitas vezes impagáveis”, declara. A presidente do Sindivest-JF destaca que a situação agravou-se ainda mais em razão da inadimplência dos clientes, que, por sua vez, sofrem com a difícil situação financeira dos consumidores finais. Atualmente, existem 65 milhões de CPFs no Serasa e cerca de 39% das empresas que recorreram às instituições financeiras em busca de financiamento são devedoras, dificultando o acesso ao crédito.
Mariângela Marcon, que também lidera a governança do APL Farol da Mata Vestuário e Afins, afirma que a melhoria da situação econômica e financeira dos empresários requer uma série de medidas, como oferta de crédito, capacitação de profissionais, simplificação tributária, regras claras sobre trava bancária, celeridade processual, entre outras. Essas medidas têm o objetivo de manter a atividade produtiva, os empregos e a arrecadação tributária e evitar desequilíbrios na cadeia produtiva, buscando fortalecer a economia nacional.
“No caso específico de Minas Gerais, nos lançamos em busca de socorro para sensibilizar o poder público em prol da resolução do problema de inadimplência com relação aos impostos, como foi feito em março de 2023 pelo Estado do Espirito Santo e em junho de 2023 pelo Estado de Pernambuco. Apenas isso, contudo, não seria suficiente, sendo necessário que se discuta também a abertura de crédito aos empresários, para que eles possam quitar suas dívidas. Precisamos verificar o que pode ser feito para ajudar os empresários, tanto na esfera política quanto na esfera administrativa. É necessário planejar e implantar ações que possam trazer um respiro para o empresariado brasileiro, que sofre com a sobrecarga tributária, com as burocracias fiscais, com a concorrência oriunda da guerra fiscal entre os estados e, agora, pelas varejistas asiáticas isentas de impostos”, ressalta.
A presidente do Sindivest-JF destaca em seu estudo a concorrência advinda da importação de produtos que não pagam impostos, que tem afetado drasticamente a indústria brasileira, especialmente o setor do vestuário. “Essa crescente concorrência desleal, resultante das importações de pequeno valor via encomendas internacionais, tem sido uma preocupação constante para as empresas locais, que enfrentam dificuldades para competir em igualdade de condições”, declara. De acordo com dados da Gerência de Economia e Finanças Empresariais da FIEMG, nos últimos 10 anos, o número de deste tipo de importação aumentou em 100 vezes, gerando um cenário altamente desafiador para a indústria nacional. Apenas em 2022, o Brasil recebeu mais de 176,3 milhões de encomendas de baixo valor, totalizando um montante de U$ 13,1 bilhões isentos de impostos.
Uma análise do cenário econômico do setor do vestuário
Em seu trabalho, Mariângela Marcon faz um estudo do panorama atual e traça perspectivas para o futuro. Analisando a demanda do setor do vestuário no primeiro semestre de 2023, verifica-se que esta foi negativa, em Minas Gerais. No acumulado do ano até maio (último mês com informações disponíveis), o volume de vendas no varejo do setor da moda (que Em nosso país, a produção física do setor de vestuário caiu 8,8% no primeiro semestre.
As expectativas são de desempenho moderado do segmento do vestuário, mas que não reverta a queda de produção esperada para o acumulado do ano. Apesar da queda da taxa de desemprego, as famílias apresentam um elevado nível de comprometimento da renda com dívidas, o que reduz o potencial de consumo. Adicionalmente, o setor de vestuário nacional está sofrendo com a entrada de produtos importados, que não enfrentam os desafios do Brasil, dentre eles a alta carga tributária e os problemas de logística.
Os empresários tentam se manter otimistas, porém, pesquisas publicadas pelo Instituto de Inteligência de Mercado (IEMI) apontam para a estabilização, o que os faz cautelosos quanto a investimentos e inovações. Entretanto, se na indústria o cenário é de estabilização, no varejo de vestuário em geral a retomada é perceptível, ainda que de forma ainda moderada. É o que mostram os outros indicadores do IEMI.
“É de fundamental importância que os governos atuem auxiliando os empresários para que eles se mantenham em uma linha de trabalho correta e ética, pois só assim poderemos alcançar um ritmo de produção e vendas do setor do vestuário que demonstre crescimento efetivo e geração de riquezas, com aumento do emprego e da renda em Minas Gerais”, afirma Mariângela Marcon.
Graciele Vianna
Imprensa FIEMG