A ideia de produzir o arroz doce pronto para consumo nas gôndolas dos supermercados e sem a necessidade de refrigeração foi do empresário e presidente do Sindarroz (Sindicato da Indústria de Arroz do Estado de Minas Gerais), Jorge Tadeu Araújo Meirelles e começou a ser desenvolvida em maio de 2020. Atuante no ramo há mais de 30 anos e conhecedor da cadeia produtiva do arroz, Jorge Tadeu possui boas memórias quando o assunto é o arroz doce. “Minha mãe sempre fazia nas reuniões de família, para celebrar alguma comemoração, e ficava sempre aquele gostinho de quero mais. E produzir o arroz doce para o consumo em si, sempre foi um sonho meu e eu acredito muito no potencial do produto.” disse.
E para viabilizar a comercialização e distribuição da iguaria pelos supermercados, o projeto ganhou uma nova parceria, a Condimentos Portuense, indústria do setor alimentício da cidade de Juiz de Fora, zona da mata mineira. O lançamento pro mercado está previsto para abril deste ano.
Para Flávia Gonzaga, diretora de vendas da indústria, o projeto está apto para crescer e ganhar o gosto dos consumidores. “A parceria vem de uma oportunidade de interesses, eu como industriaria e o presidente do Sindarroz como fornecedor. Nosso objetivo é industrializar, comercializar e exportar o produto. A ideia da canela vem do fato da Portuense trabalhar com as especiarias, e o tradicional arroz doce da vovó ser com a canelinha, além do que a canela ajuda a dar mais consistência. A Portuense está em fase de adaptação para a produção da iguaria, já que é necessário um espaço exclusivo que não se misture com os demais produtos da empresa, que é focada em temperos e afins.” disse a empresária.
O novo “shelflife”, ou seja, o tempo de vida do produto, está estimado para 12 meses, até o momento, foi alcançado através dos testes, segundo o idealizador Jorge Tadeu Meirelles, o período de 8 meses.
O projeto: ideia inicial, objetivo e parceiros.
Aliada ao conhecimento e experiência do empresário Jorge Tadeu, a economista Rita de Cássia Ferreira Meirelles foi a responsável por desenvolver o projeto oficial nos moldes exigidos para que a produção pudesse ser realizada. Segundo Rita, que tem vasta experiência em assessoria e gestão de negócios inovadores, a ideia do arroz doce se fortaleceu após uma missão empresarial realizada na China em 2017.
“A ideia do arroz doce ganhou ainda mais força depois de uma missão empresarial que fizemos para a China em meados de 2017, por conta de um projeto também relacionado ao mercado de arroz que realizei sobre o sindicato do arroz. Esse primeiro projeto pude ter mais contato e me aperfeiçoar mais sobre a cultura e oportunidades da cadeia produtiva do arroz, inclusive de outros países.” afirmou.
Ainda segundo Rita de Cássia, o objetivo é que mais pessoas possam ter acesso a sobremesa de forma prática, além de agregar valor a matéria prima e ter um projeto sustentável; estes foram os pilares que motivaram o projeto. “Nosso desejo é que mais pessoas possam ter acesso a sobremesa que sempre representou um momento festivo e de boas-vindas em nossa família.”
O primeiro passo segundo a economista, foi verificar um estudo de viabilidade, a partir do levantamento das pessoas impactadas no projeto e àquelas instituições que poderiam auxiliar no desenvolvimento do mesmo, os requisitos, exigências e bons procedimentos. Nesta fase, além da estruturação e planejamento do projeto, foi avaliado o mercado em questão, análise SWOT, detalhamento das fases e parcerias para o desenvolvimento do negócio.
O projeto já contou com testes preliminares e a aceitação do público é considerada positiva; o teste gustativo realizado no CIT apontou a intenção de compra em 77% dos 85 consumidores que experimentaram o produto.
Para Jorge Tadeu o diferencial foi o processo inovador para a fabricação do arroz doce, de forma que ele possa ser acondicionado sob a temperatura ambiente (shelf-stable), o que facilita a logística e a distribuição do produto. Outro diferencial é a utilização em sua formulação de um subproduto da indústria de arroz para elaboração de um produto de alto valor agregado. Com isso, o projeto do arroz doce tem com uma de suas metas, colaborar com a alimentação de uma população crescente, estimada em 9,6 bilhões em 2050 (ONU, 2013) e eliminar o descarte de subprodutos, confira os principais pilares:
-MOTIVAÇÃO: Produto acondicionado sob a temperatura ambiente (shelf-stable) e utilização de subproduto da indústria de arroz para elaboração de produto de alto valor agregado
-IMPACTO: Facilidade na distribuição e baixo custo de produção com a utilização de ingredientes sem valor substantivo de mercado, mas com qualidade consistente.
-TECNOLOGIA: Produto estável em temperatura ambiente. Logística e Praticidade
Desenvolvimento: pesquisas e testes até a fórmula ser atingida
O tipo de leite, o tipo do açúcar, a quantidade de cada ingrediente, o ponto do cozimento do arroz, entre outros detalhes que remanejados e testados entre si geraram a receita que já está fazendo sucesso nas degustações.
Foram mais de 30 formulações desenvolvidas para que a cremosidade, textura e coloração fossem atingidas e aprovadas pela equipe envolvida. Para Morgana Zimmermann, pesquisadora líder do CIT, a produção do arroz doce em questão trouxe um desafio tecnológico muito grande em especial porque o desenvolvimento do produto é para que ele não fique na geladeira, e sim, na gôndola comum.
“O arroz degrada muito rápido após ser cozido, e a refrigeração impactaria em custo muito alto, assim, trabalhamos para que o produto ficasse estável em temperatura ambiente.” disse Zimmermann que tem doutorado em engenharia de alimentos pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Ainda segundo Zimmermann, após as apresentações do produto em reuniões da FIEMG, a pergunta mais falada devido a satisfação ao experimentarem o produto foi a seguinte “Quando teremos o produto disponível no mercado?”
Conceitos visuais: casa de vó, tradicional, cozinha mineira, sabor
Conforme citado acima, o anseio do idealizador Jorge Tadeu era associar a sobremesa ao conceito e sensação de lar, reunião em família, casa de vó. E essa foi a missão atribuída ao Centro de Design do CIT.
Além de criar este sentido afetivo que é uma das premissas do projeto, o design do produto teria também que chamar a atenção das pessoas, já que não é comum encontrar a sobremesa em um local não refrigerado. Eurico Figueredo, designer do CIT, contou que foi realizada uma pesquisa juntamente com diversas tentativas até que o rótulo ficasse pronto.
“O Jorge procurou a gente para desenvolvermos o rótulo, em especial porque nós não estamos habituados a ver arroz doce na prateleira do mercado. A questão era: ‘Como fazer com que a pessoa reconhecesse aquilo como arroz doce?’ Este foi o ponto de partida, a gente precisava que as pessoas vissem as palavras arroz doce na prateleira. As pessoas teriam que comprar pelo frasco, e assim lembrar do arroz da avó. A inspiração era a cozinha.‘Como seria a cozinha de uma vó mineira que faria esse arroz doce?’. A partir daí, realizamos uma pesquisa e fomos chegando em elementos como o babado do pano de prato, ladrilho e a textura.”
Cada cor da paleta criada especificamente para o arroz doce tem uma referência específica: o azul se remete aos casarões coloniais, o caramelo é referente à canela, e os tons de marrom associam-se a fogão a lenha, a madeira ou até mesmo o ‘queimadinho’ trazido por algumas receitas. Assim, reunidos de uma forma criativa, estes ícones conseguiriam acessar memórias e boas lembranças do passado.
Os primeiros feedbacks em relação ao rótulo foram positivos. Ainda segundo Figueredo, o público relata que é possível perceber o carinho e a dedicação na própria embalagem. “Muitos disseram que parece um mimo.” relatou o designer.