Confira o estudo produzido a pedido da Gerência do Meio Ambiente
https://www.fiemg.com.br
CONTEXTO
Após um ano de intenso monitoramento, o IGAM publicou,em abril de 2020, ocaderno especial intitulado “Acompanhamento da Qualidade das Águas do Rio Paraopeba”, no qualdiscorre sobre a avaliação do monitoramento da qualidade das águas e sedimentos realizado a partir do dia 25 de janeiro de 2019, quando a barragem de rejeito no complexo da Mina Córrego Feijão, designada B1, da empresa Vale S/A, rompeu no Ribeirão Ferro-Carvão, tributário do Rio Paraopeba, provocando diversos impactos diretos na qualidade das águas e, consequentemente, no provimento de usos múltiplos na área diretamente afetada.
A intenção do caderno foi divulgar o que se verificou sobrea influência do rompimento da barragem da Mina Córrego Feijão (Brumadinho) na qualidade das águas do Rio Paraopeba. Este artigo visa contribuir com a referida avaliação e apresentar a qualidade das águas do Rio Paraopeba um ano após o rompimento da barragem da Vale, utilizando-se da mesma metodologia empregada pelo IGAM no PROGRAMA ÁGUAS DE MINAS, em vigor desde 1997 e de grande reconhecimento e validade para o estado de Minas Gerais.
Realizou-se,inicialmente, uma complementação comparativa das principais constatações advindas dos dados sobre qualidade de água publicados no “caderno especial” do IGAM, juntamente com a série histórica de monitoramento do PROGRAMA ÁGUAS DE MINAS, bem como com as principais constatações publicadas no relatório intitulado DIAGNÓSTICO DAS ÁGUAS DA BACIA PARAOPEBA FRENTE AOS EMPREENDIMENTOS DO SETOR MÍNERO-INDUSTRIAL NO PERÍODO DE -1997 A 2018 E PÓS-ROMPIMENTO DABARRAGEM B1 – BRUMADINHO,datado de abril de 2019, publicado pela FIEMG e de autoria da IB CONSULTORIA .
Salienta-se que, os valores avaliados são oficiais e resultam do monitoramento realizadono período pós-rompimento e também na série histórica de 1997 a 2018. A análise foi realizada ao longo da calha do Rio Paraopeba, em relação ao local de rompimento da barragem de rejeito do Complexo Córrego Feijão, considerando o ponto de monitoramento a montante até o Rio São Francisco.
Imagem 1
MEDOTOLOGIA
O objetivo deste estudo é realizar uma avaliação da qualidade das águas na calha do Rio Paraopeba após o rompimento. Procurou-se manter a metodologia utilizada no PROGRAMA ÁGUAS DE MINAS, cuja base é de CONTAMINANTES TÓXICOS.
A classificação Contaminação por Tóxicos define índices (tabela 1) que variam entre baixo, médio e alto, de acordo com o valor apurado em relação ao limite legal preconizado pela legislação.
Tabela 1 – Índice de Contaminação Tóxica
Fonte: IGAM, 2017
PRINCIPAIS CONSTATAÇÕES
As principais violações inferidas neste artigo são referentes a: Ferro dissolvido, Manganês Total, Alumínio Dissolvido, Chumbo Total, Mercúrio Total, Níquel Total, Cádmio Total e Zinco Total.
À exceção de FERRO, MANGANÊS e ALUMÍNIO, que foram analisados por estarem presentes na calha do Rio Paraopeba e no solo da região, os demais parâmetros são considerados CONTAMINANTES TÓXICOS.
A seguir, na tabela 2, apresenta-se o percentual de violação dos valores encontrados em relação aos índices de contaminação BAIXO, MÉDIO e ALTO, no ponto a montante do rompimento (BP036), bem como os valores apresentados na série histórica da calha até o ano de 2018 e os valores apresentados na calha após o rompimento da barragem B1.
Tabela 2 – % de Violação do Limite Legal
Fonte: IB CONSULTORIA
Vale salientar que na série histórica foram avaliados 933 resultados e, no ano de 2019-20 (pós- -rompimento), 1.140 resultados.
Considerou-se também, para a avaliação, a divisão em trecho da calha do Rio Paraopeba:
I. Trecho M: Rio Paraopeba a montante da Foz do Ribeirão Ferro-Carvão (BP036)
II. Trecho 1: Localizado nos primeiros 40 km após a confluência com o Ribeirão Ferro- -Carvão até a montante da termelétrica Igarapé (BPE2, BP068, BP070)
III. Trecho 2: Localizado entre 40 km e 123 km após a confluência com o Ribeirão Ferro- – Carvão (BP072, BPE3, BPE4, BP082)
IV. Trecho 3: Localizado entre 190 km a 279 km após a confluência com o Ribeirão Ferro- – Carvão até a montante da UHE Retiro Baixo (BP083, BP077, BP078 e BP087)
V. Trecho 4: Localizado a 318 km após a confluência com o Ribeirão Ferro-Carvão, a jusante da UHE Retiro Baixo (BP099)
VI. Trecho 5: Localizado no corpo da represa de Três Marias (BPE06, BPE07, BPE08)
ALUMÍNIO
Conforme o caderno especial emitido pelo IGAM, o “Alumínio apresenta-se com valores próximos da normalidade histórica justamente nos primeiros 60 km a jusante da barragem, aumentando muito além dessa normalidade em todos os outros pontos ao longo da calha do rio Paraopeba, inclusive no trecho de montante” (grifo nosso).
“Acrescenta-se a esse fato as ocorrências de Alumínio acima do limite legal até o ano de 2018 que se deram ao longo de todo o curso de água, predominantemente no período chuvoso, muito provavelmente pelo carreamento de solo rico em Alumínio, característica natural da região” (grifo nosso).
Corroborando as constatações acima, o gráfico 1 apresenta um aumento na frequência do percentual de valores em violação ao limite legal após o rompimento, destacando-se que tal aumento já é percebido a montante do Ribeirão Ferro-Carvão (BP 036).
Gráfico 1
Fonte: IB CONSULTORIA
FERRO
Seguindo a legislação, foram avaliados os valores de Ferro Dissolvido ao longo da calha do Rio Paraopeba, conforme gráfico abaixo.
Gráfico 2
Fonte: IB CONSULTORIA
É observada a presença de Ferro Dissolvido em toda a calha do Rio Paraopeba, inclusive a montante (BP036). Os 27% dos resultados obtidos no período até 2018 (SÉRIE HISTÓRICA) encontram-se acima do limite legal da legislação vigente, sendo a maioria no período de chuva, quando o carreamento de solo ocorre.
Destaca-se que, na região da Bacia do Rio Paraopeba, existe a presença natural de Ferro no sedimento de corrente e solo (CPRM 2014), contribuindo para o aumento dos teores de Ferro encontrados em toda a extensão da calha do rio. Salienta-se ainda que o percentual de violações em toda a extensão da calha do Paraopeba foi maior pós-rompimento, inclusive a montante do Córrego Feijão.
MANGANÊS TOTAL
Verifica-se que 96% dos teores de Mn na série histórica até o ano de 2018, antes mesmo do rompimento, encontravam-se acima do limite da legislação vigente e estavam concentrados no período chuvoso, possivelmente devido ao carreamento de solo, pelo fato da bacia estar localizada dentro do quadrilátero ferrífero, onde existem valores naturais de Manganês no solo e sedimento de corrente (CPRM 2014).
Assim como o Ferro e o Alumínio, os valores elevados de Manganês são observados no trecho localizado a montante do rompimento (gráfico 3), tendo sido verificados percentuais de violação superiores a 90% na série histórica, no Rio Paraopeba, na localidade de Melo Franco/Brumadinho (BP036).
Enfim, conforme tabela 2, os valores de Mn têm a sua maioria registrada nos índices de CT ALTO, mesmo antes do rompimento da barragem B1, em Brumadinho.
Gráfico 3
Fonte: IB CONSULTORIA
CHUMBO TOTAL
A série histórica (tabela 2) mostra que existem mais violações ao limite legal do que violações ocorridas após o rompimento. Ressalta-se que, desde março de 2019, os valores de Chumbo não foram ultrapassados ao limite legal na calha do Rio Paraopeba.
O mesmo pode ser verificado no gráfico seguinte.
Gráfico 4
Fonte: IB CONSULTORIA
MERCÚRIO
Após o rompimento, é observado Mercúrio no mês de fevereiro de 2019 com valores acima do limite legal, porém, no mês de março em diante, os valores se encontram dentro do limite legal.
Na série histórica, não se observa Mercúrio na calha, nos pontos localizados a montante de Brumadinho.
CÁDMIO, COBRE, CROMO, NÍQUEL E ZINCO
Os demais parâmetros de “contaminantes tóxicos” – cádmio, cobre, cromo, níquel e zinco – em série histórica e em alguns casos já a montante de Brumadinho, bem como os de pós-rompimento, são de violações aleatórias e pouco frequentes. Salienta-se que os maiores valores acontecem somente em períodos de chuva, tanto na série histórica quanto após o rompimento.
Destaca-se, no entanto, a presença de Cobre no trecho 4, mas observa-se também a violação na série histórica (trecho 3). Ambos podem estar relacionados à presença de outros empreendimentos na calha do Rio Paraopeba, com potencial de contaminação para Cobre, conforme gráfico a seguir.
Gráfico 5
Fonte: IB CONSULTORIA
CONCLUSÃO
Por fim, após um ano de rompimento da barragem B1, é possível afirmar que não existe contaminação por tóxicos nas águas da barragem de Três Marias (trecho 5) que tenha sido gerada do rejeito vindo do rompimento da barragem da Mina Córrego Feijão, em Brumadinho. Além disso, a presença de contaminantes tóxicos na calha do Rio Paraopeba não pode ser atribuída ao rompimento da barragem B1, bem como a existência de Ferro, Manganês e Alumínio, apesar de presente no rejeito e nos sedimentos do Rio Paraopeba, pois estes já se faziam presentes em índices superiores ao limite legal mesmo antes de janeiro de 2019, conforme monitoramento da qualidade das águas a montante do rompimento e na série histórica em toda a calha do Rio Paraopeba.
______________
Estudo:
IB CONSULTORIA
Coordenação:
Wagner Soares Costa – Gerente do Meio Ambiente da FIEMG
Apoio técnico:
Deivid Lucas de Oliveira – Analista Ambiental da Gerencia do Meio Ambiente da FIEMG
artigoqualidadeagua