Confira o artigo do Wagner Soares, gerente de Meio Ambiente

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Desde 1972, o dia 5 de junho é dedicado ao Meio Ambiente. Tal data foi estabelecida, por decisão da ONU, na abertura da Conferência de Estocolmo. E dois são os motivos para isso. O primeiro deles é marcar a realização dos três grandes eventos de discussão sobre questões ambientais: Estocolmo (quando foi instituído), Rio +10 e Rio+20. Sendo assim, todos os anos, em 5 de junho, somos alertados a respeito das diretrizes ambientais estabelecidas e do compromisso da sociedade em torná-las realidade. O segundo motivo é celebrar as ações desenvolvidas e seus resultados.

Existe uma tendência na sociedade em considerar o primeiro motivo como sendo uma obrigação, e o segundo, em geral, é utilizado dentro do conceito de subjetividade, entendendo que pouco ou quase nada foi realizado para a sustentabilidade do planeta e que o esforço despendido na realização dos grandes encontros internacionais pouca importância têm para a humanidade.  

A sensação de que nada foi feito é motivada por ainda existir questões conceituais de magnitude holística, como desigualdade e pobreza, mudança do clima, degradação ambiental e escassez de água. A solução dessas questões está imbricada em um complexo de relações de caráter complementar, suplementar e de conflito, que possui tratamento, muitas vezes, individual e regional, necessitando de mudança de atitude e até mesmo cultural. As respostas encontradas possuem um passo a passo que exige persistência, além de tempo de maturação e apropriação da própria sociedade. Um tempo que pode demandar gerações.

Por isso, o Dia Mundial do Meio Ambiente é para lembrar os compromissos assumidos sobre o tema e verificar se as políticas públicas, voltadas para a sustentabilidade, estão promovendo a transformação necessária. Desde a instauração desta data, temos visto mudanças consideráveis no comportamento empresarial quanto ao cumprimento dos conceitos de desenvolvimento sustentável, das quais citaremos alguns exemplos.

Se avaliarmos o processo produtivo do setor de mineração nos dias atuais, verificaremos que não é o mesmo de 30 ou 40 anos atrás. A área do trabalho de exploração é hoje muito menor, com redução sensível do consumo de água (80% de reúso) e da supressão vegetal. Podemos falar também do aumento da geração de energia elétrica solar, eólica e de biomassa, que reduz a dependência da geração por aproveitamento hidráulico e contribui para a redução de combustível fóssil como gerador de energia.

Na área de processamento de dados, há 30 anos, se utilizavam grandes equipamentos (mainframes), e agora eles são bem menores, com capacidade de processar até mais dados que as antigas máquinas. Já o mercado de celulose e papel baseava a sua produção no uso de madeira nativa – o que gerava um resíduo com alto poder de poluição. Hoje, a matéria-prima básica é a madeira de floresta plantada (eucalipto), adequada para a indústria que valoriza o meio ambiente.

O que se percebe ao longo desse período é que as empresas estão buscando a sustentabilidade empresarial com responsabilidade, valorizando questões ambientais e sociais, preocupando-se com as ações consideradas obrigações da lei, como tratamento de efluentes e resíduos, mas também com ações geradas pela consciência do melhor a ser feito, estabelecendo, por exemplo, programas de apoio às comunidades de sua área de influência.

Como podemos verificar, existe sim uma tendência de mudança de comportamento em algumas áreas, com maior ou menor velocidade. As empresas estão percebendo que as questões ambientais refletem na geração dos lucros e no crescimento dos negócios, uma vez que pesquisas dão conta que 89% da população considera consumir produtos de empresas com boas práticas de acesso e uso de insumos naturais, que 79% têm interesse na procedência dos ingredientes dos produtos que consome e que 92% dos consumidores dão preferência a empresas que adotam políticas de respeito ao meio ambiente e à biodiversidade. É importante perceber ainda que não apenas as questões ambientais são valorizadas pela sociedade, mas também o comprometimento que as empresas têm com ações essenciais, como qualidade de vida, erradicação da pobreza e mudança do clima.

Nesse contexto, estão os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS, uma agenda mundial adotada durante a cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, desdobrada em metas que deverão ser cumpridas até 2030: 1 – erradicação da pobreza; 2 – fome zero e agricultura; 3 – saúde e bem estar; 4 – educação e qualidade; 5 – igualdade de gênero; 6 – água potável e saneamento; 7 – energia limpa e acessível; 8 – trabalho decente e crescimento econômico; 9 – indústria, inovação e infraestrutura; 10 – redução das desigualdades; 11 – cidades e comunidades sustentáveis; 12 – consumo e produção responsáveis; 13 – ação contra a mudança global do clima; 14 – vida na água; 15 – vida terrestre; 16 – paz, justiça e instituições eficazes; 17 – parcerias e meios de implementação.  

A agenda é ampla e estratégica, representando risco para a continuidade de negócio. Ela agrega atributos aos serviços/produtos e obriga a deixar de lado uma visão defensiva, buscando adotar uma visão de futuro.

Na dimensão ambiental, a visão de futuro deve estar centrada no impacto do processo produtivo sobre a qualidade de vida e a biodiversidade. Isso inclui a adoção de tecnologias que visem à racionalização do uso de energia, água, materiais e insumos.

Na dimensão social, a busca é por agregar os atores locais e regionais, melhorando a estrutura de atendimento, aumentando a abrangência e criando sinergias (cooperação entre os órgãos municipais e regionais), para haver capacidade e consistência no atendimento ou no cumprimento de sua competência nas políticas públicas. O objetivo é identificar lacunas de infraestrutura, por exemplo, na saúde, educação, governança ética e redução da pobreza, apoiando iniciativas eficientes já existentes.

Na dimensão econômica, o que se pretende é contribuir na redução das desigualdades, gerando riqueza entre os seus fornecedores e preço justo a seus clientes, bem como desenvolvendo modelos de negócio, realizando mentoria na cadeia de fornecedores e acelerando instrumentos inovadores para a melhoria da produtividade.

Situações atípicas, como os acidentes ambientais recentes e a pandemia da Covid-19, atuam como aceleradores da mudança necessária para a sustentabilidade, devido à comoção que causam. Essas situações aguçam o sentido de urgência, induzindo uma mudança de modelos comportamentais convencionais para modelos mais ágeis, a fim de agregar valor e apoiar a criatividade humana.   

Pesquisas e inovações tratadas de forma convencional, aguardando cumprimento de protocolos que atendem a garantias jurídicas e operacionais (custo/benefício), são alçadas à condição de urgência, acelerando resultados. Por exemplo, para o desenvolvimento de uma vacina, que pelo protocolo convencional deve cumprir etapas de testes que podem levar de 2 a 3 anos, estrutura-se um novo protocolo com economia de etapas e tempo de resultados, ou um medicamento desenvolvido para determinada enfermidade pode ser usado em outra, mediante autorização, uma vez que já se sabia de sua eficiência para ambas.

Nesse contexto, ambientes político e regulatório, não adaptados a novas soluções, tendem à mudança em atendimento à urgência e podem ser ou não mantidos para o futuro, promovendo um salto de modernização e produtividade para a humanidade.

Momentos como esses reforçam os objetivos do Dia Mundial do Meio Ambiente, porque obrigam a mudança de comportamento. Obrigam sociedade e, principalmente, empresas a repensar como a sustentabilidade deve ser incorporada à proposta de valor de proteção ao meio ambiente, oportunidades de negócios e bem-estar. Reforçam ainda o sentido de que sustentabilidade é um caminho no qual cotidianamente se deve seguir, tendo a clareza das propostas de valor com as quais se deve atuar.

É preciso ter em mente que o novo normal ocorre no dia a dia, estabelecendo como a empresa deve se reinventar e desenhar estratégias de operação. Um estudo da McKinsey sobre o impacto do novo coronavírus no futuro dá conta de que 2/3 da população acha que agora é mais importante do que antes da epidemia limitar os impactos das mudanças climáticas. Além disso, 60% estão fazendo mudança significativa de estilo de vida para reduzir o impacto no meio ambiente.

Planeta e sociedade em primeiro lugar, reforçando as diretrizes dos grandes encontros de meio ambiente e dos ODS. Dessa forma, os objetivos dos negócios não são apenas o lucro, mas vão além, abrangendo a proteção à inovação e aos investimentos de longo prazo, a criação de valor para a sociedade em termos de qualidade de vida e a proteção à biodiversidade.

Hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente, é momento de repensar e mudar a forma de agir. Entender o novo normal e se moldar proativamente em favor do meio ambiente. O alerta é que a sustentabilidade não deve ser um fim, mas um caminho a ser seguido diariamente, com ferramentas adequadas e a participação de todos.

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Wagner Soares Costa  – Gerente do Meio Ambiente da FIEMG

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