A partir deste mês de julho, os consumidores começaram a pagar mais caro na conta de luz, com um acréscimo de R$1,88 a cada 100 kw/h consumidos. A cobrança adicional ocorre em razão do acionamento da bandeira tarifária amarela, anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), no mês passado. “O acionamento da bandeira amarela sinaliza que estamos ligando as termelétricas, que são poluentes e mais caras que as hidrelétricas. Ou seja, estamos encarecendo a conta do consumidor e poluindo o meio ambiente devido a uma escolha que fizemos no passado de não investir mais em hidrelétricas”, pontua o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Flávio Roscoe.
Segundo estudo elaborado pela Federação, caso as fontes de energia não renováveis fossem substituídas por hidrelétricas haveria uma redução de custos com energia elétrica de 19,3% por ano, além de um aumento nas exportações de R$13,5 bilhões e um crescimento de 0,9% do Produto Interno Bruno (PIB) do país. Para Roscoe, a bandeira é uma sinalização do setor elétrico da piora nas condições hidrológicas e aumento do consumo para os próximos meses. “No entanto, esse aumento poderia ser evitado caso não tivéssemos paralisado o investimento em hidrelétricas com reservatórios”, afirma. Para ele, o impacto previsto de 2,6% na tarifa desafia o desempenho do setor industrial.
O estudo da FIEMG aponta ainda que, ao longo dos últimos 40 anos, apesar do crescimento na geração de energia proveniente de fontes eólica e solar, o percentual de energia limpa gerada no Brasil tem diminuído. Na década de 1990, era de aproximadamente 97%, enquanto em 2022 caiu para 89%. Nesse período houve queda expressiva na participação das hidrelétricas, de 96% para 64%, e aumento da produção de energia não renovável, especialmente de termelétricas a gás, para compensar a intermitência das energias eólica e solar. A geração de energia eólica, por exemplo, chega a variar 73% ao longo do dia.
O estudo também mostra o impacto no meio ambiente. Entre os anos de 1995 e 2022, período em que se aumentou a participação das termoelétricas no país, as emissões diretas de CO2 provenientes da geração de energia elétrica foram ampliadas em 360%, comparadas com o período de 1970 a 1994.
Durante o período de 1970 a 2022, as usinas hidrelétricas responderam por 78% da produção total de energia elétrica, mas contribuíram apenas com 20% das emissões totais de gases de efeito estufa (GEE) do setor de energia elétrica. Em contrapartida, as termelétricas, que representaram apenas 18% da geração de energia elétrica, foram responsáveis por 79% das emissões de GEE no mesmo período.
Aumento de custos
Além do aumento na conta de luz do consumidor, a adoção da bandeira tarifária amarela deve impactar diretamente a cesta básica do brasileiro, uma vez que o reajuste impacta diretamente o setor produtivo. E no caso de Minas Gerais, o reflexo nos preços deve ser ainda maior porque, no final do mês de maio, o Estado já havia sido impactado pelo reajuste médio de 8,63% na conta de luz dos mineiros.
Estimativas de sindicatos filiados à FIEMG apontam para a possibilidade de repasse dos reajustes ao consumidor no caso de alimentos como leite e carne, por exemplo, que integram a cesta básica. Além disso, é possível que haja impacto também no preço do pão francês.
Em relação aos produtos lácteos, a energia mais cara afeta diretamente toda a cadeia de produção de leite e, consequentemente, impacta o consumidor final. Já no caso das carnes, o reajuste da conta de luz pode influenciar diretamente no preço, uma vez que o impacto mais imediato é nos açougues, que têm consumo elevado de energia com geladeiras, câmaras frias e outros equipamentos utilizados no manejo e acondicionamento do produto. No caso do pão, a alta da tarifa de energia se soma à escalada de preços da farinha de trigo, matéria-prima essencial para o setor de panificação.
Imprensa FIEMG